Hoje em dia, há diversas maneiras de personalizar o aprendizado de idiomas, considerando motivações, preferências e, claro, tempo.
ESCRITO POR BRENO PESSOA
Desde pequeno, talvez aos três ou quatro anos, guardo comigo a memória de minha mãe, professora de francês, conversando com umas senhoras de aparência estranha, muito pálidas e de olhos claros, num idioma esquisito. Até ter consciência de que se tratava do francês, já havia assimilado uma série de palavras e expressões por convívio e um tanto de interesse.
Então, ainda no primário vieram as primeiras aulas de inglês no colégio. Lá em casa haviam diversos recursos para a prática do idioma, herança do meu irmão dois anos mais velho. Revistas em quadrinho, livros infantis, desenhos animados, os quais devorei como os doces da minha avó. Logo, as aulas passaram a ter um ritmo incômodo e a minha distração virou rotina. Bastavam as aulas de inglês começarem para a minha imaginação flutuar e as horas se alongarem como uma centopeia lenta e infinita. Enquanto a professora repetia explicações ou perpetuava lições relativamente fáceis, eu fazia o dever de casa de outras matérias, para ter tempo livre para brincar logo após a escola.
Em um artigo no jornal britânico The Guardian, vários jovens responderam à pergunta ‘O que lhe motivaria a aprender um idioma’. Não é surpresa alguma para mim que a grande maioria tenha escolhido motivos interativos e práticos, como intercâmbios, conversas com falantes nativos, assistir filmes em outros idiomas e aprender através de jogos e aplicativos.
Anos iriam passar até eu entender que o aprendizado de idiomas havia se tornado uma paixão. A sala de aula é uma lembrança distante e ao decorrer do tempo absorvi uma série de hábitos para a prática de línguas estrangeiras além dos limites de quatro paredes, que além de mais divertidos e interessantes, me ajudaram a falar 3 idiomas a nível fluente (português, inglês e espanhol), outro a nível avançado (alemão) e a entender relativamente bem mais dois (francês e italiano). Aqui estão algumas das minhas dicas para todos aqueles interessados em línguas e novas maneiras de aprender.
1. Aproveite cada oportunidade como se fosse a única
Um tópico sempre em voga para alcançar fluência é morar fora. Sem dúvida, ter contato frequente com o idioma pode acelerar o domínio da língua, mas então por que será que algumas pessoas aprendem mais rápido que outras? A resposta é simples: além de aptidão natural, empenho e prática. Ao vir morar na Alemanha, algo que sempre me incomodou foi a mudança súbita do alemão para o inglês.
Era comum perguntar algo na língua deles e ouvir uma resposta na língua inglesa em contraponto. O meu alemão não estava muito além do intermediário-baixo, mas isso pouco importava. Quanto mais eles respondiam em inglês, mais eu insistia em alemão, independente de todos os possíveis erros que eu cometeria. Era quase um jogo, quem cansava primeiro! O resultado é que após quase um ano, quando resolvi frequentar um curso, eu já entrei no nível B1, o terceiro nível pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas.
2. Falar com nativos por algumas horas pode ser melhor que estudar meses em uma escola.
O momento ideal para praticar as suas habilidades linguísticas muitas vezes é quando você está absolutamente descontraído, ou em uma situação informal. Quando estava fazendo mestrado em Londres, duas descobertas me deixaram atônito.
A primeira foi o quanto o meu inglês fluía em jantares acompanhados de vinho. Ou simplesmente com pessoas divertidas, que me deixavam bem à vontade. Notei que o medo de errar se escondia nas profundezas da minha mente e muitas vezes me inibia. Ao superar isto, relaxei e passei a prestar mais atenção nos outros que em mim.
A segunda foi que ao passar a copiar as suas expressões e a forma de pronunciar as palavras, o meu sotaque melhorou bastante, ficou bem leve. O meu vocabulário também aumentou consideravelmente e em seguida, virei o jogo e passei a observar os meus erros gramaticais com frequência, em comparação ao modo que os nativos falavam. Percebi que não apenas aprendia mais como também fixava mais as novas palavras e expressões. Era um processo de observação do outro e de auto-observação. Tudo ao mesmo tempo agora.
3. Tempo para aprender ou divertir-se? Que tal ambos?
Trocar o filme dublado pelo com legenda. Assistir filmes e séries duas vezes, a primeira na versão em português, a segunda na versão original. Ler letras e escutar a música depois sem olhar. Uma palavra estrangeira por dia enviada para a sua namorada ou o seu namorado. Viajar ou frequentar eventos com temáticas internacionais.
Ler contos para crianças numa língua estrangeira, ou o original das suas poesias favoritas. Você já imaginou como os poemas de Charles Baudelaire soam em francês? Qual o verdadeiro estilo de Charles Bukowski em inglês? Ou você tem um outro Charles favorito? Ou Henry? Quaisquer que sejam os seus ídolos ou passatempos preferidos, associá-los ao aprendizado de línguas potencializa a memorização. Você vai se surpreender com a quantidade de novas palavras que vão escapulir da sua língua quando você precisar usá-las.
4. Viaje o máximo que puder
Viajar para outros países é uma experiência inesquecível, tanto em termos de absorção cultural como crescimento pessoal. Confrontar a sua visão de mundo e costumes com a de pessoas absolutamente diferentes, enriquece e transforma. Mas não se esqueça que as suas férias podem ganhar uma conotação ainda mais local se você se esforçar em falar algumas palavras no idioma do país. E podem ser ainda mais divertidas.
Na minha primeira viagem à Itália, busquei aprender algumas palavras para abordar as pessoas. Comprei um livro de frases e cada dia buscava ler o vocabulário de uma situação, como fazer um pedido no restaurante. O resultado é que quando estava em Roma, logo nos primeiros dias consegui dicas de moradores locais sobre o que fazer além do que se encontra nos guias turísticos.
Descobri também que os italianos entendem o espanhol melhor que o inglês e recompensam o seu esforço em dizer algumas palavras em italiano de forma bastante receptiva.
5. Assuma o controle do seu aprendizado
Não existe apenas uma maneira de aprender. Cada pessoa se adapta melhor a diferentes métodos, horários e situações. Quais são os seus favoritos? Você já se fez essa pergunta antes? Lembre-se que não há nada melhor do que aprender se divertindo e que talvez experimentar algo completamente diferente possa lhe surpreender positivamente.
A sua namorada demora muito para se arrumar? O seu namorado, amigo, colega, nunca aparece na hora marcada? Dez minutos por dia já são o suficiente para estudar. O que importa é seguir o seu próprio ritmo e manter a frequência.
Cada oportunidade conta. Então, aprenda no parque, na casa da avó, esperando o horário do médico. Coloque os fones de ouvido no caminho para o trabalho, ou junte-se a um amigo que está no mesmo processo para um bate-papo, como os protagonistas do nosso vídeo.
Pronto para aprender?
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