quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Como é uma sala de aula americana?


Uma sala de aula da Live Oak Elementary School, em Austin: ambientes diversificados e acolhedores. (Foto: Mara Mansani)
Como contei semana passada, minha participação no South by Southwest(SXSWedu), a maior conferência de inovação e Educação do mundo, rendeu muitos aprendizados. Voltei de lá com uma enorme vontade de transformar a Educação pública.

Mas além dos painéis, debates e palestras, tivemos a oportunidade de visitar dois espaços educativos em Austin, no Texas (EUA), onde ocorreu o evento: a escola Live Oak Elementary School e o Laguna Gloria Art Museum.
Foram visitas valiosíssimas que eu preciso dividir com vocês!

Uma escola típica e muito especial
Outra visita marcante foi a que fizemos à Live Oak Elementary School, uma típica escola pública regular de Austin que atende alunos de 6 aos 11 anos.
A Live Oak Elementary School é cercada por um jardim gramado e repleto de árvores. (Foto: Mara Mansani)
Tivemos um grande choque de realidade. Tomando as palavras do professor João Paulo, um dos meus companheiros de viagem, achei que encontraria coisas de outro mundo, robôs pelos corredores, telas por todos os lados... No entanto, o que vi é que a tecnologia faz parte do cotidiano, mas não é a chave de salvação nem um fim em si mesma. Ela é uma ferramenta que facilita a aprendizagem. E mais: muito do que se faz lá tem a ver com os desafios e necessidades que temos aqui no Brasil.

Durante a visita, fomos super bem recebidos pelos professores e a diretora. Chamou a nossa atenção a tranquilidade do ambiente. Estávamos num dia de aula normal, mas não havia gritaria e alvoroço. As turmas são de, no máximo, 22 alunos.

As paredes de todos os corredores são utilizadas como painéis permanentes para expor os trabalhos dos alunos. Havia pesquisas sobre a biografia de grandes personalidades americanas, mensagens sobre valores, desenhos, textos, trabalhos coletivos e individuais, entre outras coisas. Isso faz com que os alunos criem um sentimento de pertencimento à escola, que lhes dá espaço, prestigia suas vozes e pensamentos.

As salas de aula são um misto de conforto, beleza e funcionalidade. Tudo é realmente pensado para acolher. No lugar de um monte de carteiras enfileiradas ocupando todo o espaço, há sofás, tapetes, mesas e cadeiras agrupadas, pufes e outros móveis de apoio. Em uma das salas, tinha até uma banheira (sim, daquelas grandes, de banho), repleta de livros para os alunos “navegarem na leitura”. Nas paredes, havia propostas de atividades, como “fichas de problemas matemáticos”, um quadro numérico, mensagens de incentivo e otimismo, desenhos e a programação das aulas.

Em todas as salas há uma lousa digital (que, na classe dos mais novinhos, está mais baixa, adaptada para a altura deles), um espaço de leitura, um porta-mochilas e um canto com pia e torneira. Também existem salas temáticas para Ciências e outras matérias, com microscópios, tubos de ensaio, balanças, equipamentos de filmagem etc. E como não poderia deixar de ser, a escola tem uma biblioteca com um bom acervo disponível para empréstimo e computadores.

 Entrei em uma sala de alfabetização, onde a professora estava trabalhando leitura. As crianças estavam espalhadas pela sala, em pequenos grupos, e a docente ia acompanhando a atividade, sem tirar a autonomia para ler.
Outra característica bonita da escola é a diversidade. Crianças brancas, negras, latinas e orientais convivem nas turmas. Além disso, a Live Oak também centraliza o atendimento especializado a crianças surdas em Austin.
Ao entrar a sala dos professores, fiquei de boca aberta: um espaço aconchegante, lindo e confortável. Plantas criam um clima agradável, e a equipe tem à disposição móveis e eletrodomésticos que facilitam muito o dia a dia, como fogão, geladeira, sofás, cafeteira e até uma lavadora de louça. Os docentes ainda contam ainda com um banheiro só para eles.
A sala dos professores uma cozinha bem equipada, sofás, banheiros e uma atmosfera agradável. (Foto: Mara Mansani)
Apesar do choque – e das inevitáveis comparações que minha cabeça fez entre o que vi nos Estados Unidos e o Brasil – tirei algumas conclusões importantes:
  • A primeira delas é que, ao contrário do que se pensa, há várias semelhanças. Muito do que vimos por lá, por exemplo, essa apropriação dos espaços pelos alunos, já existem aqui. Dá para potencializar isso reorganizando os espaços com aquilo que a escola já tem. A distribuição dos espaços em sala de aula pode ser melhorada com a adoção de uma organização diferente das carteiras que já temos ou o uso de tapetes e almofadas, além de uma disposição mais atrativa dos livros no espaço.
  • Do ponto de vista metodológico, também dá para tirar boas lições. A criação de circuitos de aprendizagem é algo que requer planejamento, mas não é impossível. Por exemplo: vamos imaginar uma aula sobre o sistema solar. Enquanto uns assistem a um vídeo sobre o tema, outros leem um texto informativo e escrevem, e outros pesquisam imagens. Depois de um tempo, os alunos trocam de atividade, e a proposta é que todos participem de tudo, enquanto o professor acompanha. Por que não pensar em uma proposta assim pelo menos uma vez por mês?
É claro que algumas coisas que vimos por lá não dependem de nós, mas das políticas públicas. Aí entra o nosso papel cidadão de participar do debate e reivindicar mais.

Uma escola de arte para todos
O Laguna Gloria Art Museum fica em um parque natural às margens do Rio Colorado. (Foto: Mara Mansani)
Uma das coisas que me chamaram a atenção é que o ensino de Arte é uma prioridade na Educação americana – pelo menos em Austin é assim. E o Laguna Gloria Art Museum é um grande exemplo disso. Trata-se de um espaço a céu aberto de arte contemporânea, dedicado a artistas locais e regionais. É um maravilhoso parque natural à beira do Rio Colorado, que abriga também a The Art School. Como o nome já diz, essa escola é um centro com estúdios bem equipados que oferece cursos de pintura, desenho, cerâmica, xilogravura, escultura, colagem, técnicas de mosaico e muito mais! A The Art School atende escolas públicas e pessoas da cidade, dos 4 anos em diante. O objetivo é promover a criatividade, melhorar a consciência visual e as habilidades técnicas. Nas oficinas, as turmas participam de todo o processo de criação, do planejamento à execução, passando pelos primeiros esboços. Preciso confessar que fiquei com muita vontade de ser aluna de uma escola como essa! É maravilhosa!
Fiquei pensando: seria muito bom que as cidades brasileiras criassem centros de arte com proposta parecida. A centralização possibilitaria um melhor aproveitamento dos recursos financeiros na contratação de profissionais, na aquisição de materiais e equipamentos. No Laguna Gloria, por exemplo, há vários fornos para uso nas aulas de cerâmica. Aqui, nas escolas públicas – salvo raras exceções – não temos acesso a esse tipo de recurso. Sei que o investimento seria considerável, não só com infraestrutura, mas com transporte escolar, mas precisamos pensar também em oferecer essas experiências enriquecedoras.
Com tanto aprendizado e reflexão, só me resta agradecer mais uma vez a todos os que nos proporcionaram esse momento: Leandro, Alice e a toda Associação Nova Escola, Lara, Camila, Jéssica, Mariana e toda a equipe da Fundação Lemann, e a nossa guia e intérprete Juliana Connolly. A vocês, muito obrigado pelas aprendizagens e amizades.
Um grande abraço a todos e até a próxima segunda-feira!


Mara Mansani
https://novaescola.org.br

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