quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O FRACASSO ESCOLAR



Por: Amled Julião Rodrigues
Resumo: Este artigo nos leva a refletir sobre a causa do fracasso escolar e como educadores podemos estar contribuindo para que isto não aconteça em nossas escolas.
O objetivo da escola é ensinar e formar o cidadão, sua existência está ligada a servir aos alunos, família, a sociedade em geral e para isto a escola deve se preocupar com:
A qualidade na Escola resulta do compromisso de todos: pais, professores, alunos, pessoal auxiliar e diretores de atenderem (antecipar e exceder) às necessidades de seus clientes de forma colaborativa e cumprirem a missão da organização. Esta qualidade é também conhecida como ‘Qualidade Total’ enquanto representa um esforço global da organização em busca da excelência.
(MEZOMO, 1999, p.14)
Quando Mezomo cita a frase “qualidade total” ele nos chama para uma reflexão sobre qual é o conteúdo que estamos oferecendo aos nossos alunos, ou seja, estamos procurando uma forma qualitativa para ensiná-los ou estamos preocupados com a quantidade dos alunos aprovados no final do ano letivo. Os educadores devem conscientizar que a escola é um sistema organizacional e como toda instituição tem suas deficiências e precisam ser apontadas, questionadas e sanadas para que não comprometa o resultado final, ou seja, o aprendizado do aluno.
Como pesquisadores temos consciência que nada pode ser só qualitativo como só quantitativo e para alcançarmos um bom resultado precisamos encontrar o meio termo entre eles. Todos buscamos qualidade tanto na vida pessoal como na profissional e para alcançarmos isto nos esforçamos na quantidade do trabalho exercido isto não seria diferente na nossa vida escolar, ou seja, para termos qualidade nos conteúdos aplicados precisamos de uma quantidade de metodologias, trabalho em equipe do setor pedagógico, materiais disponíveis para pesquisa e muitas outras coisas, porém nos deparamos com um ensino arcaico, professores em muitos casos que se encontram desmotivados, precisamos mudar este quadro:

As escolas precisam acreditar no futuro e antecipá-lo através de um planejamento estratégico consistente. Elas devem mudar suas funções, seus métodos de ensino, seus materiais instrucionais e incorporar novas tecnologias que respondam melhor aos seus clientes.
(MEZOMO, 1999, p. 17)
Completa:
As escolas já não podem mais tolerar nada de inefetivo, inútil ou mal utilizado, e devem ser criativas para garantir segurança aos seus clientes. Isto supõe escolas com uma administração comprometida com a melhoria e capazes de se prepararem para o novo mundo que exigirá produtos e serviços de qualidade para todos
(ibid. p. 17)
Mezomo reafirma no texto acima que devemos banir das nossas escolas toda influencia arcaica e tradicional onde o educando era mero ouvinte. O bom desempenho do aluno deve ser algo a ser conquistado a cada dia passando por venturas e desventuras, não como algo utópico:
É pena que ainda não se tenha descoberto o potencial existente em todos os grupos envolvidos no processo de ensino aprendizagem [...] Agrupá-los em função de objetivos comuns significa potencializar seu pensamento, reduzir as dissonâncias, facilitar as mudanças e consenso, reduzir os custos e aumentar a satisfação de todos.
(ibid. p. 19)
Ao refletirmos sobre as melhores formas de proporcionar ao educando sua escolarização, temos a tão temida frase “fracasso escolar”, termo este que possui ligação com os insucessos do aluno durante sua vida escolar, podendo ser causados por vários motivos entre eles: desmotivação, indisciplina, dificuldade de aprendizado, problemas neurológicos subdivididos em várias deficiências que prejudicam na assimilação do conteúdo e os motivos ocasionados fora do ambiente escolar (contexto sócio-econômico), lamentavelmente ao chegar na escola muitas vezes este aluno se depara com profissionais sem preparo para lidar com estas situações.
Ao analisarmos os motivos que estão levando os alunos ao fracasso escolar não podemos desconsiderar:
[...] o homem é um ser essencialmente social, impossível, portanto, de ser pensado fora do contexto da sociedade em que nasce e vive. Em outras palavras, o homem não social, o homem considerado como molécula isolada do resto de seus semelhantes, o homem visto como independente das influências dos diversos grupos que freqüenta, o homem visto como imune aos legados da história e da tradição, este homem simplesmente não existe.
(LA TAILLE, 1992, p. 11)
O cotidiano escolar é regido por abordagens teóricas que Oliveira 2001 (p.95-99) explicita da seguinte forma:
  • [...] Tradicional, a aprendizagem é um processo que supõe a aquisição de informações e demonstrações transmitidas pelo professor.a memorização/fixação de conhecimento, de conteúdos informacionais, é sinal de que houve aprendizagem por parte do aluno [...];
  • [...] Comportamentalista, o homem é conseqüência das informações do meio. Seu fazer é resultado de condições especificas desse ambiente. São categorizadas nessa abordagem as teorias que definem a aprendizagem como mudança nos comportamentos observáveis do individuo [...];
  • [...] Humanista, crescimento pessoal, aperfeiçoamento da comunicação e das relações interpessoais são as palavras-chave da abordagem humanista;
  • [...] Cognitivista-Interacionista, em Epistemologia genética, contesta epistemologias conhecidas: a epistemologia inatista do conhecimento e a que concebe o conhecimento empiricamente. [...] O conhecimento é considerado construção continua, é essencialmente ativo [...];
  • [...] Gestaltista, concebem a aprendizagem como um processo de percepção e aquisição de novos insights. [...] a aprendizagem é inteligente – diferente do comportamentalismo – e pode ser ainda definida como um processo de solução de problemas. Essa solução depende da compreensão das relações que já estão dadas no campo perceptivo, e é operada pela inteligência.
Ao analisarmos estas abordagens não podemos deixar de questionar, será que elas atendem as necessidades dos nossos alunos? Ou é uma forma de impor um jeito de pensar que agrade a instituição que ele está inserido? Será que a escola não poderia usufruir cada ponto positivo de tais abordagens para beneficiar seus alunos? Pois conforme La Taille (1992, p.14) “Para Piaget, o ‘ser social’ de mais alto nível é justamente aquele que consegue relacionar-se com seus semelhantes de forma equilibrada[...]”, completa: “[...] a partir da aquisição da linguagem, inicia-se uma socialização efetiva da inteligência [...]” (ibid, p. 15).
Patto (apud OLIVEIRA, 2001, p.104), ressalta a importância dos aspectos intra-escolares que causam uma ruptura entre:
  • Temática porque desloca a visão psicológica/biológica do fracasso escolar para o campo das condições materiais, pedagógicas, administrativas a escola pública, assim como – posteriormente – para a competência técnica, condições de trabalho dos professores e seu compromisso político;
  • Teórica porque se inspira em duas posturas teóricas. [...] De modo geral, entende-se, nesse viés, que as práticas constitutivas da vida na escola são mantenedoras da ordem social vigente (reprodução das relações de produções no sistema capitalista).
O professor assume o papel de transformar e fazer a manutenção do sucesso ou fracasso escolar, sendo de suma importância seu relacionamento com o aluno, como a situação familiar é outro fator importante, o interesse dos familiares na vida escolar e a situação socioeconômica são levadas em consideração na hora da abordagem do problema que afetam o aluno dificultando na sua assimilação. Lembrando que “[...] Para Vygotsky o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social [...]” (LA TAILLE, 1992, p. 24)
Conforme Oliveira (2001, p. 108) a repetência/evasão (outra forma de fracasso escolar) pode ser pensado como:
[...] um movimento de resistência, como uma inquietação no campo do desejo revolucionário. Um movimento que desmancha os contornos segmentados de fracasso e sucesso que se colocam para aquém, além, do sim e do não, do modelo e das cópias boas ou más.
Completa:
A repetência/evasão não requer mais educação, mais capacitação de professores que os tomariam competentes, mais horas-aula para que o aluno se recuperasse no tempo (recuperasse o próprio tempo), mais análise crítica que desalienasse professores e alunos, ou seja, mais conscientização do ‘verdadeiro’e do ideológico papel da educação, mais metodologias ortopédicas,  mais Pedagogia ou mais Psicologia.
(Ibid. p. 109)
Oliveira abre com este texto uma reflexão sobre o que efetivamente precisamos para melhorar nossa escola, e ressalta que os problemas de aprendizagem vêm se modificando ao longo dos anos, e hoje podemos contar com uma análise médica, psicométrica e sóciopolítico junto com a psicologia e a pedagogia.
Será que podemos responsabilizar o fracasso escolar a uma situação criada pela questão social e política do país, quando desde sua primeira iniciativa de educação com os jesuítas esta possuía um caráter elitista e isto não se extingui completamente na atualidade, como podemos ver em 1998 ainda se reflete sobre:
A escola foi pensada para uma criança ideal, uma criança que não trabalha, uma criança que fala bonito, uma criança que pode estudar em casa com calma, etc. Em suma, a escola não foi pensada para a maioria mas sim para os filhos de uma elite que, por definição, são muito poucos.
(CECCON, 1998, p.48)
Ceccon afirma que possuímos escolas preparadas para formar moldes de profissionais bem sucedidos, pois estas crianças citadas por ele são filhos da elite minoritária que insiste em quere decidir como os conteúdos devem ser ministrados em nossas escolas. Em quanto à sociedade não está preparada para ver seus alunos de ensino público assumir tais lugares (diretorias empresariais), necessitando de “[...] vontade política, consciência crítica e, principalmente, conhecimento científico” (BOSSA, 2002, p. 26)
De acordo com Patto (1999, p. 113) temos “[...] uma política educacional que insiste em destinar ao primeiro ano professores sem a necessária motivação e vocação que a alfabetização exige”. Com este comentário Patto defende que precisamos de um ensino cmprometido com novas propostas pedagógicas:
[...] na qual um professor interessado e bem formado mange o conteúdo de ensino levando em conta as especificidades do alunado, tanto no que se refere às características de sua faixa etária quanto às suas experiências culturais – pode garantir a eficiência escolar.
(ibid. p. 114)
O problema da evasão se estende durante décadas, nos deixando a sensação de que o tempo passa, mas os problemas educacionais permanecem intactos apesar de serem levantados como plataforma política e esforço de pesquisadores de várias áreas como cita Gouvêa (apud PATTO, 1999. p.139)
Acreditamos que o setor de estudos psicopedagógicos – entre os quais se incluem não apenas estudos de psicologia educacional propriamente ditos, mas também a elaboração de currículos ou programas e a investigação sobe métodos de ensino – é o que apresenta atualmente maiores probabilidades de crescimento.
Muitos alunos têm sua repetência causada pelo excesso de faltas, o professor junto ao pedagogo deve estar procurando como trabalhar a motivação neste aluno para que não se abata sobre ele o sentimento de redenção que alerta Oliveira (2002,p. 116) “veicula-se que os fracassados devem esforçar-se consciente e racionalmente para sair do fracasso e provar isso para si e para os outros – provar sua redenção”.
O aluno quando volta à escola na condição de repetente, acaba exigindo do professor uma forma mais “delicada” de trabalhar seu “tempo perdido”, ou seja, não se deixar abater pela desmotivação de estar repetindo os mesmos conteúdos e em algumas escolas da mesma forma que o ano anterior. Ao re-trabalhar este aluno o professor deve buscar o apoio de novas metodologias, e se não for suficiente o professor deve encaminhar o aluno ao psicopedagogo, para que em parceria com este profissional possam sanar as dificuldades do aluno em questão. Conforme Bossa (2002, p. 60) “[...] o apelo do não-aprender tem na angústia o seu motor. Mobiliza, comove, traz à tona uma verdade, a verdade do sujeito”. Assim ao promover soluções o professor adquiri a confiança deste aluno encorajando-o e facilitando assim seu progresso educacional.
Não podemos desvincular a ansiedade educacional, ou seja, a necessidades que muitos alunos apresentam em ser os “melhores da turma”, isto é reflexo do atual momento econômico onde temos uma pressão social, como nos diz Cordié (apud BOSSA, 2002, p. 66-67):
Não é somente a exigência da sociedade moderna a causa da problemática escolar, como se pensa muito freqüentemente; a causa estaria também em um sujeito que expressa seu mal-estar na linguagem de uma época em que o poder do dinheiro e o sucesso social são valores predominantes.
Completa “o fracasso escolar pressupõe a renúncia a tudo isso, a renúncia ao gozo” (ibid. p.67), devemos evitar que a questão “fracasso escolar” saia do estado de problema socialmente aceitável na vida do aluno para o estado de problema sintomático, ou seja, não podemos deixar que o aluno canalize esta dificuldade de aprendizagem.
Devemos considerar que muitos possuem em casa o que podemos chamar de “diferencial”, ou seja, convive com pessoas instruídas que os motiva e auxilia enquanto a grande maioria dos alunos que recebemos se sentem marginalizados convivendo com pessoas não acreditam nos benefícios tragos com a aquisição do conhecimento, precisamos encarar o fato de que não recebemos todos no mesmo patamar, “É por tudo isto que querer tratar a mesma maneira alunos que se encontram em maneira desigual, fingindo que todos têm a mesma possibilidade de aprender o que a escola ensina, significa não apenas manter a desigualdade, mas até aumentá-la” (CECCON, 1998, p. 51)
Na luta de extinguirmos o fracasso escolar, devemos re-pensar nossa conduta de educadores e questionarmos, será que estamos nos fazendo entender? Será que a linguagem que eu (professor /a) uso faz parte do vocabulário do meu aluno? A partir destes pensamentos abranger pra a instituição, será que e meu aluno está sendo bem recebido? Lembrando sempre que “o caminho a ser seguido para a mudança da escola é o mesmo caminho que o povo já vem trilhando em busca da solução para tantos outros problemas de sua vida quotidiana” (ibid. p.90)
Assim não podemos ignorar a cultura vivida pelo aluno, e nem tão pouco achá-la suficiente, mas precisamos desenvolver novas competências dando aos alunos perspectivas de futuro, informações pertinentes e conhecimento adequado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2002.
CECCON, Claudius, OLIVEIRA, Miguel Darcy de, OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. A vida na escola e a escola da vida.33 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
DE LA TAILLE, Yve; OLIVEIRA, M. K; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
MEZOMO. João Catarin. Educação e Qualidade total: a escola volta às aulas. 2 ed. Petrópolis: Vozes. 1999.
OLIVEIRA, Sonia Pinto de. Micropolítica do fracasso escolar: uma tentativa de aliança com o invisível. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo. 2001.
OLIVEIRA, João Batista Araújo e. CHADWICK, Clilton. Aprender e ensinar. 2 ed. São Paulo: Global, 2002.
PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
Fonte:http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/

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